Surfando
na Pororoca - O Ofício do mediador - Warat
Fichamento do Livro: Surfando na Porororca – O Ofício do mediador.
Autor: Luis Alberto Warat.
Prefácio:
É através do litígio que o conflito
é manifestado. O Estado-juiz é quem tem a função de resolver o litígio e
fornecer a sentença que deverá ser aceita e praticada por todos. Os conflitos
são manifestados através de processos, que são esquecidos devido a tanta
burocracia. Os participantes do processo não preocupam –se com o futuro, com as
conseqüências que aquela decisão irá trazer.
Através da mediação busca-se um
resgate com o outro, com o futuro que aquelas decisões irão trazer, através da
mediação há um resgate ao ser humano, aos seus valores e problemas, existe uma
preocupação com as pequenas coisas.
Parte
I
1.Introdução
O papel do mediador é dar amor, é
estimular as pessoas a chegarem aonde elas querem estar, é estimular a
comunicação, o diálogo e o entendimento.
O mediador aprende com a sua própria
experiência e com a experiência dos outros, deixa ligado todos os sentidos e
busca no outro sinais de entendimento e de aceitação para que assim sejam
resolvidos os problemas. O seu ser esta ligado no interior dos outros, em
buscar aquilo que esta escondido, a verdade real , para assim então surgir ou
trazer a tona a transformação que resultará na solução dos problemas.
O mediador é um mestre e não um
professor, pois o mestre esta interessado no eu pessoa, no eu interior, no
verdadeiro aprendizado, que é o conhecimento do ser. O mestre mexe com o outro,
muda-o, faz com que ele repense valores e idéias, ensina-o a colocá-las na
prática, o verdadeiro mestre sabe que este relacionamento vem da confiança, da
lealdade e elas levarão ao amor.
A verdade existente entre as pessoas
são frutos dos diálogos, do nosso autentico ser, enquanto que a verdade da
ciência nos afasta de nós na medida que nos impede de duvidar das coisas, de
indagar, de conversar e de correr o risco do desconhecido.
Em todo aprendizado para que sim
haja a resolução dos problemas, a comunicação, as palavras escritas, os gestos
não são os únicos a serem utilizados, existem também os pensamentos e o
raciocínio e não podemos esquecer os sentimentos, tudo se comunica, tudo se
completa e só assim chegaremos as descobertas.
1.2 Esse não é um
livro de filosofia
A sociologia desqualifica a
sensibilidade e a razão dos sentimentos bases da mediação, pois a filosofia é
argumento, mente persuasiva, raciocínio e pensamentos lógicos.
No que diz respeito a filosofia, o
argumento e a discussão nos fecham, no agridem, a verdade e a solução dos
problemas procuradas na mediação não podem ser reconhecidas através da
violência e da agressão existentes na filosofia.
A verdade tem haver com a
consciência do ser que surge através da sensibilidade. O real é imprevisível,
ninguém sabe quando ele irá acontecer.
Devemos saber distinguir os homens
da ciência e da filosofia dos da sabedoria. Os homens tanto da ciência quanto
da filosofia estão preocupados com as respostas prontas com as verdades
existentes, já os homens da sabedoria se preocupam com as respostas não
prontas, com o que possa vir, com o inacabado, com a verdade oculta.
É perda de tempo se preocupar com
perguntas e respostas feitas, elas são inúteis quando se procura uma nova
existência. Para procurarmos uma nova existência temos que colocar para fora
tudo aquilo que nos esta atrapalhando, vivemos cheios de opiniões que não
usamos para nada, são apenas lixos acumulados por todas as experiências que já
passamos. A existência é a procura do próprio ser, a existência é quem nós
somos, o importante é o profundo, o que esta dentro da gente.
1.3 A xícara de chá
tem uma enorme importância para um mestre Zen
A primeira atitude do mestre Zen
quando observa alguém carregado de perguntas sem respostas é olhá-lo em
silêncio por um longo tempo e depois dizer: Acalme-se e tome uma xícara de chá.
A xícara de chá representa para o mestre Zen o pensamento, a meditação e a
consciência. A xícara é um convite para que
pessoa se desprenda do seu ego, do seu eu exterior e comece a se ligar
com a sua essência, com o seu eu interior, com o seu ser. È um convite para nos
olharmos por dentro para podermos fazer transformações. A xícara de chá é um
convite para a mudança, para o encontro do amor, do êxtase, da inocência e da
simplicidade, é a sintonia para todos estes elementos.
Para encontrarmos o nosso verdadeiro
eu temos que esvaziar a xícara, isto é, esvaziar o nosso interior do que é
supérfluo, ou então quebrar a xícara ou impedi-la que seja cheia novamente. A
xícara não pode ser cheia com nada que vem de fora e sim com a nossa essência
mais pura.
Procurar uma nova existência é um
trabalho árduo, é um trabalho de destruição e depois de construção, é uma morte
para depois surgir um novo nascimento. Se nós estamos prontos para morrer
estamos prontos para uma nova existência, para a morte não há perguntas, não há
respostas, só o caminho. De tanto saber e tanto procurar o homem esquece de
viver, o mediador tem o dever de proteger, de guiar, de ajudar. A transformação
acontecerá em nós, nós é quem temos este poder, é a voz que não se capta, é o
eu interior. Precisamos sair das nossas prisões, nas prisões os sentimentos
estão ausentes, precisamos escapar delas encontrando o nosso próprio eu.
A sabedoria não vem através do
sofrimento, mas sim da aceitação daquilo que acontece, seja o que for, o
sofrimento servirá apenas como um aprendizado, pois o problema desaparece se o
aceitamos e permanece se criamos condições de alimentá-lo, se temos um problema
não devemos criar outro dentro dele, mas simplesmente extingui-lo.
1.4 Quando existe um
sofrimento, geralmente, vem o medo
O medo aumenta o sofrimento e não
deixa que passemos por ele. O medo nos oprime, nos esconde, nos impede de
passar pela vida, de vivê-la. O medo é tão forte que é capaz de criar uma
armadura ao redor de si, uma armadura que serve para nos esconder de nós
mesmos, de nossos objetivos e sonhos.
Cuidado também com a coragem, pois a
coragem quando é simulada também nos prejudica, pois nos impede também de
prosseguir, pois pode criar raízes e nos prender sem deixar que sigamos
adiante. As pessoas aprendem a simular, a esconder tudo, pois assim acreditam
que podem fugir da vida. A verdade, a autenticidade e o amor nos levam a
compreensão e ao entendimento.
1.5 Para ficar
mediado, é necessário ser autentico
O
mediador precisa atuar com autenticidade e verdade, para ser mediador a pessoa
precisa estar consciente que não há ninguém ali pra ser enganado. Ser íntegro e
maduro são quesitos básicos para a compreensão .
O
mediador deve usar toda a sua sabedoria para trazer o problema á tona e fazer
com que as partes cheguem ao ponto central do problema, para que assim exista a
transformação. A mediação surge através da sensibilidade que á a percepção
sutil do que esta invisível, isto é, daquilo que não esta aparente.
Um
bom mediador precisa ser harmonizado, ele precisa renunciar a tudo aquilo que é
falso, sem renunciar a vida e ao mundo. Ser harmonizado é sacrificar o presente
pelo futuro e nunca a contrário.
1.6 Tentemos sentir o
conflito
O segredo da mediação é descobrir
aquilo que esta escondido, que passa desapercebido. Para ser mediador é preciso
sentir, é preciso ter sentimentos, o mediador tem a preocupação de intervir no
conflito com a intenção de resolvê-lo, de transformá-lo.
Os conflitos não desaparecem, apenas
se transformam, nos casos em que alguns
só querem intervir no conflito sem pensar nos sentimentos das pessoas eles não
se resolvem como deveriam, porém o mediador deve entender a diferença entre
intervir no conflito e no sentimento das partes, pois a função do mediador é
ajudar as partes, fazer com que elas prestem atenção em si mesmas e não ao
conflito, como se ele fosse uma coisa externa a ela mesma.
1.7 O sentimento do
outro
A mediação pode nos ajudar na busca
dos sentimentos, pois integra um pensamento ao outro. A mediação equivale a uma
primeira aproximação, para fazer mediação é preciso viver em harmonia com a
própria interioridade.
Os conflitos reais encontram-se no
interior, no coração das pessoas, por isso uma nova linguagem para a mediação,
uma linguagem nova, poética e cheia de sentimentos. A linguagem que vem do
coração é um linguagem mágica, diferente da falada e da escrita, é uma
linguagem sentida.
A dever do novo mediador é ajudar
lentamente as pessoas a manifestarem os seus sentimentos através da linguagem
do coração, pois é sentindo que a pessoa para pensar no que o outro também esta
sentindo e assim é mais fácil convergir o conflito.
1.8 O tempo da
mediação
O tempo da mediação é o tempo da
sensibilidade, o tempo do amor, é o tempo da espera do momento certo, do
instante propicio para agir, para assim então resolver a crise.
1.9 Mediação e
sensibilidade
A mediação é um processo que
recupera a sensibilidade das pessoas, que recupera o crescimento interior para
poder agir na resolução dos conflitos. A mediação que atinge a sensibilidade
das pessoas resolve com simplicidade os conflitos, a mediação não aceita
aqueles que não resolvem os seus problemas internos, pois aquele que não esta
aberto ao amor não pode recebê-lo..
1.10 Como se forma um
mediador?
A maioria das escolas de mediação
estão formando profissionais incompletos, pois preocupam-se com as técnicas,
com rituais, as formalidades, boas recomendações e esquecem do principal o
trabalho dos sentimentos e da sensibilidade. As escolas de mediação formam
conciliadores, negociadores, porém não mediadores.
A mediação é uma arte que precisa
ser experimentada e não explicada. Para ser mediador é preciso estar além das
técnicas de comunicação, é preciso ver o problema com os olhos do amor, é
preciso renunciar as máscaras, aos jogos.
A maioria das escolas de mediação
estão preocupadas em revelar respostas prontas, formam mediadores ensinando-os
a planejar o acordo, como se fossem robôs preocupados com o próprio ego. O
pensamento planeja porque quer mandar, quer dominar. O que se deve procurar na
mediação não é só a comunicação que é o encontro de palavras, deve se procurar
também a comunhão, que é o acordo silencioso entre dois corações, sem palavras,
apenas sentimento.
Para formar um mediador é preciso
levá-lo a um estado de mediação , ele deve estar mediado, ser, viver e sentir a
mediação. Estar mediado é compreender o valor de não resistir, de não lutar, de
não manipular, é deixar livre a energia dos outros.
1.11 A postura
corporal
A proposta de mediação e sensibilidade
pretende chegar nas pessoas através da postura corporal mais do que a postura
verbal. A expressão corporal vale muito mais do que as palavras, as vezes um
simples silêncio diz tudo. O mediador tem que aprender a interpretar o que esta
nas entrelinhas, o que esta no não verbal.
A comunicação não verbal é aquela que vai de
corpo pra corpo, de sentimento pra sentimento, quando falamos estamos
diminuindo o sentir, o corpo representa melhor que as palavras.
1.12 O reencontro
amoroso
A mediação usada como terapia do
reencontro considera o conflito dos sentimentos amorosos através de uma
psicologia sensível, generosa, educativa e comunitária. Na psicoterapia do
reencontro se tenta ajudar as pessoas para que possam amar e construir vínculos
a partir de suas identidades e valores, assim o amor é apresentado as partes
através de vínculos conflitivos, como um retorno ao eu interior, como um
processo de aprendizado e de mutação constante, ensinando assim as pessoas a se
importarem com as outras e a compartir.
O amor esta presente na vida de
todas as pessoas, tanto o amor como a afetividade são sentimentos básicos do
ser humano, pois todos precisam amar para serem amados. Dependemos desse conhecimento para melhorar a nossa qualidade de vida, o
nosso equilíbrio afetivo e emocional e o nosso contato com o mundo.
A mediação deve atuar em conjunto
com o amor, pois o amor é um dos caminhos para se encontrar o crescimento
pessoal, introduzindo o amor em nossas vidas teremos autonomia e assim fica
mais fácil a solução dos problemas.
1.13 Amor. Que é o
amor?...
O amor é complexo e ao mesmo tempo
simples, é transmitido através dos sentimentos. O amor é uma maneira feminina
de expressar os sentimentos, pois na forma masculina o amor é comandado pelos
pensamentos e pelo ego que o fazem perder o seu real valor, que nos impede de
chegar ao outro desarmado. Muitas mulheres são frustradas no amor porque querem
se comportar como homens.
O feminino do amor é a busca mais profunda dos sentimentos, pois
o amor é um modo de vida e
paradoxalmente o amor da sentido a vida, mas o amor puro sem expectativas, sem
propósitos sem metas.
O amor é um pouco de loucura, e a
loucura deve-se ao fato de não podermos provar porque amamos. Nascer, morrer e
amar são os três maiores propósitos da vida, sendo que os dói primeiros escapam
ao nosso controle. O amor é aquilo que encontramos entre o nascer e o morrer. O
amor é vida, é transformação, o amor é o religamento com a natureza e com os
outros.
1.14
Situação limite
Os
sentimentos de ternura e de agressividade encontram-se em todas as relações. Os
piores golpes dados contra os sentimentos são aqueles dados contra as idéias do
outro. Com o direito não é diferente, ele também não escapa da violência e do
amor, porém a carga negativa é bem maior, e transmitindo violência teremos de
volta o retorno dessa violência.
1.15
O que é a imagem do outro?
Para
a mediação do reencontro a imagem do outro não é aquela que enxergamos, e sim o
contrário, isto é, a imagem que nos olha , é a não classificada, a não
esperada, a não dominada, é a imagem pura de sentimentos, que se esconde atrás
das aparências.
No
direito, os juristas constroem a imagem daquele que é justo, que é bom, do que
é proibido, do que é permitido. São modelos de exclusão do outro, feitas
através de normas estigmatizadas das imagens idealizadas que queremos que os
outros nos devolvam.
1.16
A sensibilidade é um dos grandes temas do Direito na virada do milênio
A
mediação vista longe do paradigma jurídico da modernidade, apoiada apenas na
ignorância e no individualismo do outro são preocupantes. Juntar sensibilidade
e mediação é um modo de pensar o lugar do direito no terceiro milênio.
1.17 Provocando e refletindo
A
mediação abordada é aquela baseada em novos contextos de integridade e
humanização do homem, é uma ruptura com os saberes da modernidade na busca da
sabedoria interna, é aquela que é transformada. A mediação como um novo
paradigma, vem nos ajudar a aprender a viver e a sentir.
1.18 Autonomia
e ética
A
mediação, holisticamente falando, é vista como direito da alteridade, enquanto
realização da autonomia e dos vínculos com o outro. Tanto a mediação como a
holística são visões transformadoras. A mediação e o holismo quebram o saber da
modernidade através da tomada da consciência daquilo que se esconde no moderno
.A mediação e o holismo também tem em comum a busca da sabedoria que não quer
se tornar uma nova ciência.
No
que diz respeito ao direito tanto a mediação como a holística criam uma
concepção ética comprometida uma com a outra e também com a vida, algo que será
impossível atingir e transformar em sabedoria.
O
holismo tem uma grande ligação com o amor nas oportunidades vitais, nos
vínculos, nos conflitos, na ética ou no direito. È uma afirmação que sem a
participação afetiva do outro, não tem a possibilidade de melhorar a qualidade
de vida.
2. Mediar com
advogados: mediar as oportunidades vitais
2.1 Os significados
da mediação
A mediação é diferenciada da
negociação direta por ser uma autocomposição assistida, é um trabalho de
reconstrução simbólica, imaginária e sensível que exige a presença de um
terceiro que irá cumprir com as funções de escuta e implicação.
A função do mediador é ajudar cada
pessoa envolvida no conflito para que elas reflitam, falem de si mesmas
ativando a sua posição diante dos problemas, para que assim elas possam agarrar
como uma oportunidade única o roteiro
que irão seguir para a solução do problema e poder caminhar pela vida com uma
nova perspectiva
A
autocomposiçãio é uma forma de realização da autonomia, na medida em que educa,
facilita e ajuda na produção de diferenças. Já na mediação, a autocomposição
esta inserida na tomada das decisões, pois são as partes envolvidas no conflito
aquelas que assumem o risco das decisões, já na arbitragem o risco ocorre por
conta dos árbitros, da mesma forma que estes riscos são assumidos pelos
magistrados no momento da decisão judicialmente do litígios.
2.2 Sentidos, funções e destino da mediação
Existem
várias correntes sobre os sentidos, as funções e o destino da mediação. O
procedimento adotado é um diferente do da conciliação e da arbitragem, a
diferença baseia-se no caráter transformador
dos sentimentos que ocorrem geralmente nas relações conflituosas, o que
é ignorado no procedimento judicial e
nos outros procedimentos alternativos.
A
mediação é uma proposta transformadora do conflito, já que não busca a solução
por um terceiro, mas sim a solução pelas próprias partes que recebem o auxílio
do mediador para administrá-la. A
mediação não se preocupa com o litígio, nem com a verdade formal contida nos
autos e nem tem como finalidade a obtenção do uni acordo. A mediação visa
ajudar as partes a redimensionar os problemas e o mediador exerce a função de
ajudar as partes a reconstruírem a relação conflituosa.
A
mediação é um procedimento de intervenção sobre todo o tipo de conflito. Quando
os juristas falam de conflito o resumem ao litígio, o que não é a mesma coisa,
pois quando se decide judicialmente, por meio de um litígio, se considera
normativamente os efeitos, desse modo, o conflito pode ficar ainda mais agravado
em qualquer momento futuro.
2.3 O litígio
No Litígio o juiz decide pelas partes.
No litígio os magistrados trabalham sobre o conflito interditando-o ou
congelando-o no tempo, na lógica do litígio, os juristas intervêm diminuindo o
tempo mediante um processo de
antecipação do tempo para provocar o efeito de um controle normativo do futuro.
O conceito jurídico do conflito como
litígio apresenta uma visão negativa, pois os juristas vêem o conflito como
algo que deve ser evitado, como litígio, como controvérsia, os juristas nunca
vêem o conflito com termos satisfatórios para ambas as partes.
Assim a mediação é vista como uma
forma alternativa de intervenção nos conflitos, como uma possibilidade de
transformação, tudo através da possibilidade assistida de podermos nos olhar a
partir do olhar do outro para entendê-lo e a nós mesmos.
2.4 Em nome do acordo
Na
mediação o acordo é secundário, na medida em que é praticado ao longo de todo o
procedimento e tem um resultado mais participativo do que finalistico.
2.5 Imparcialidade
A mediação é caracterizada pelo
mediador, que é o terceiro que ajuda na resolução do litígio. O mediador tem
que ser imparcial, já que ele tem o poder de ajuda, não possui o poder de
decisão no litígio.
O juiz ou o arbitro no litígio tem
relação de poder, já o mediador ao contrário, ocupa um lugar de ajuda, de
transição e de amor. O mediador é cuidadoso, é amoroso, é paciente, o mediador
não impõe o seu critério como o juiz.
A função da mediação é recolocar o conflito e
resolvê-lo através do amor e não da
dependência ou da dominação.
2.6 Mediação dentro
dos conflitos
A mediação pode atuar dentro de qualquer tipo
de conflito como o comunitário, o ecológico, o empresarial, o escolar, o
familiar, o penal, o trabalhista, o político, o de menores em situação de
risco, os de realização de direitos humanos e da cidadania e os relacionados
com o consumidor.
A mediação deve ser encarada como
uma atitude positiva diante da vida, como uma visão do mundo e do futuro. É
fundamental na mediação tratar os não ditos, pois eles expressam mais o
conflito e possuem um maior grau de riqueza, pois em um conflito revelam se
mais pelo não-dito , do que pelo dito.
A mediação mesmo considerada como um
recurso alternativo do judiciário, não pode ser baseada em crenças ou em
pressupostos dos juristas, a mediação é antes de tudo um conciliação
3. Meditar a partir
da psicoterapia do reencontro ou do amor mediado
3.1 Mediação é /
Mediação não é
A
mediação é:
·
A inscrição do amor no conflito
·
Uma forma de realização da autonomia
·
Uma possibilidade de crescimento interior através dos conflitos
·
Um modo de transformação dos conflitos a partir das próprias identidades
·
Uma prática dos conflitos sustentada pela compaixão e pela sensibilidade
·
Um paradigma cultural e um paradigma específico do direito
·
Um direito da outridade
·
Uma concepção ecológica do Direito
·
Um modo particular de terapia
·
Uma nova visão de cidadania, dos direitos humanos e da democracia
A
mediação não é:
·
Uma resolução psico-analitica dos conflitos
·
Um litígio
·
Um modo normativo de intervenção nos conflitos
·
Um acordo de interesses
·
Um modo de estabelecer promessas
3.2 Amor / Desamor
A mediação vista como terapia do
reencontro amoroso se baseia nos processos de amor e desamor que se encontram
na vida de toda pessoa. Por amor ou desamor sentimos alegria, tristeza,
depressão, ilusão, esperança, impotência, vazio. Através do amor ou desamor
desenvolvemos a criatividade, adquirimos ensinamentos, temos medo, solidão.
O amor e a afetividade são
requisitos básicos do ser humano, precisamos amar para sermos amados, nos
vincularmos a outras pessoas afetivamente, sermos reconhecidos e valorados, é
impossível uma pessoa conseguir se
manter plenamente ignorado afetivamente pelos outros.
A mediação como terapia emocional
aborda o universo amoroso através de uma perspectiva psicológica, sexológica,
educativa, política, jurídica,, comunitária, simultânea e complexa.
3.3 Reencontro com o
bem estar
Toda terapia tem como objetivo final
a proporção do bem estar aqueles que querem se tratar e melhorar a sua
qualidade de vida. A terapia do reencontro é baseada em um contexto conflitivo
e em desajustes amorosos.
Evitamos todos os tipos de emoções, temos medo
de intimidade afetiva, de vínculos amorosos, seja do tipo que for, porque temos
medo da dor, do desamparo e da solidão. Tem um momento da vida que precisamos
cuidar de nós mesmos. Amar-se significa não renunciar a si mesmo como forma de
fuga. Devemos aprender a dar e receber amor,precisamos de uma terapia que nos
ajude a aprender a amar com maturidade, bem estar e autonomia
3.4 Aprender e
transformar
É
entendendo o funcionamento dos vínculos que aprendemos a nos transformar, temos
que aprender a tirar algumas lições das experiências vinculares satisfatórias e
apagar aquilo que não presta, só assim aprenderemos também a respeitar o nosso
espaço vital como o do outro e assim a trocar experiências.
O
modelo de interdependência afetiva ao qual não posso deixar de destacar se
baseia em um contrato ao qual se estabelece limites para que assim sejam
evitadas invasões ao espaço vital do outro, pois não existe amor quando se
tenta controlar o espaço vital que é do outro.
O
contrário do modelo de interdependência é o modelo de separação total,este
modelo é um modo radical de defesa dos espaços vitais de cada um , ao qual
impede que os vínculos entre as pessoas durem, que força a pessoa a ir passando
de vinculo a vinculo, existindo apenas relacionamentos superficiais.
3.5 Relacionamentos e
afetos
Os relacionamentos primários são
baseados na ameaça de abandono do amor, o parceiro que a todo o momento deixa
bem claro que se você não fizer aquilo que ele quer ou espera que ele vai te
abandonar, entretanto as pessoas não podem se sentir realmente queridas se não
são aceitas do jeito que são.
A pessoa deve se anular em
relacionamentos deste tipo? A resposta é não, devemos sim é apostar em
relacionamentos que nos beneficiem, e que e nos tragam autonomia, em
relacionamentos que nos deixem alegres e que nos desafiem a procura de constantes
primeiras vezes, se isso não ocorrer acabamos ficando prisioneiros de nossas
próprias condições de alienação e dependência.
Quando não renunciamos a nós mesmos
para vivermos o amor, encontramos condições de criar relacionamentos de
confiança, de autonomia, pois em relacionamentos de autonomia cada parceiro
encoraja o outro a seguir a sua liberdade.
A pessoa deve mudar por si própria e não mudar
na direção que o outro propõe por medo de perder o seu amor. A pessoa não pode
mudar pelo medo de perder, ou por culpa ou por um dever de amar, assim ela
estará se anulando, estará deixando de ser o que ela é para ser o que o outro
espera, assim acaba ficando perdido e não sendo nem uma coisa nem outra.
O manipulador domina para se
proteger de suas próprias frustrações, medos e inseguranças, ele sufoca, ele
invade ele asfixia. O manipulador esconde os seus medos na braveza, na
irritação.
O amor autônomo necessita que não escondamos
de nós mesmos e do outro os nossos sentimentos mais profundos, ele necessita de
nós pelo que nós somos e não pelo que o outro quer.
3.6 O conflito como
catalisador
Sabemos que não é o conflito em si
mesmo, mas sim, como lidamos com ele que geram as dificuldades. O conflito é um
catalisador de respostas, estas respostas podem ser agrupadas em dois grandes
grupos de motivações. A primeira, que é a motivação auto-protetora, são aquelas motivações aprendidas através da
nossa história pessoal, ao qual criam barreiras e muros intransponíveis. Já a
segunda que é a defensiva e de aprendizagem, é aquela em que os parceiros
conjuntamente, se defendem e se protegem
reciprocamente um do outro. Já a intenção de aprender abre caminhos para
mudanças significativas, ela é a única que pode abolir, abrir ou quebrar o
círculo das defesas
A intenção de aprender esta baseada
em ter que ver o conflito como uma oportunidade vital e não uma calamidade em
nossas vidas.É através dos conflitos que aprendemos a assumirmos a
responsabilidade sobre nossa própria vida, para aprendermos a arriscar, a
confiar no outro, a expressar os nossos sentimentos.
3.7
O amor desmedido
Os
conflitos de amor são relacionados com enamorados excessivos, alucinados e
inter dependentes. O ser que é ama em excesso, de forma obsessiva e neurótica,
parece querer enterrar o outro em seus
devaneios e desmesuras, em seus delírios confundidos com o amor, para irritar a
si próprio e ao outro conservando assim as feridas do excesso que o fazem
seguir na sua loucura.
O
ser que nos prendeu pode muito bem nos soltar pela delicadeza e não pelo ódio,
portanto o mediador tem que estar atento para ver um conflito de
amor e perceber se existe a possibilidade de converter um dos parceiros a
realidade, fazendo com que um medie o outro. Não sendo possível esta
estimativa, o mediador deverá ocupar o lugar da gradativa.
3.8
Desamor
O
desamor pode ser entendido como um fim do amor, uma morte e transformação de
sentimentos. O desamor é a despedida de um vinculo antigo, de um modo de nos
relacionarmos, no desamor existem tanto perdas como ganhos. Perde-se a história
vivida, mas leva-se algo desta história se dela conseguimos tirar alguma lição
e nos prepararmos abrindo os nossos sentimentos a perspectivas de futuro. O
desamor é triste e complicado porque as pessoas não sabem dizer adeus, não
sabem botar um ponto final em uma história
que não estava tendo um final feliz. Dizer adeus é muito difícil, as
pessoas precisam ser ajudadas para que não desmoronem, pois ninguém nos ensinou
a amar, muito menos a desamar, esta iniciativa depende de nós.
O
desamor tem a ver com distâncias afetivas e quebras de vínculos, alem de
bloqueios de comunicação. Mediar os
vínculos em desamor é ajudar as partes a aprenderem a despedir-se.
3.9 O papel da
psicoterapia no nono milênio
A
psicoterapia terá um papel importante no nono milênio, pois suas formas de
tratamento expandidas, diversificadas e consolidadas nos trazem novidades.
Através de estudos podemos afirmar que o consumo de psicoterapias irá aumentar
dada a quantidade de problemas psicológicos, transtornos e perturbações
estimuladas pela ansiedade, pelos desamores, dependências, sombras, déficits de
personalidade e novas enfermidades da alma.
As terapias alternativas terão a
função de ajudar as pessoas que tem a sua qualidade de vida prejudicada, devido
a sofrimentos que carregam na alma e a problemas que não conseguem resolver, as
terapias alternativas servirão para administrar e transformar para melhor as
suas vidas.
As psicoterapias do nono milênio
irão partir da premissa de que será um processo de difícil recuperação aonde
será preciso a participação de várias pessoas, com diferentes perspectivas de
vida e experiências, o terapeuta não irá impor a sua vontade, simplesmente será
um terceiro que irá escutar a pessoa a ajudando e evitando focalizar seu
trabalho sobre os medos das pessoas, fazendo um trabalho participativo que
permitirá que cada pessoa achar os seus próprios recursos.
3.10 A ética da cidadania
A
ética da cidadania reconhece no afetivo a sua dimensão fundamental, este tipo
de ética começou a instalar-se socialmente através da mediação, uma ética
baseada na ternura que destrói por completo a ética antiga e arbitrária.
Parte II
Cidadania e Direitos
Humanos da Outridade.
Os caminhos de uma
justiça cidadã e da construção de juízes cidadãos – a justiça mediadora
1. Prelúdio
insatisfeito
1.1 Cidadão e
Direitos Humanos
A cidadania pertence aqueles que têm
opinião própria. Ser cidadão é ter voz, é poder opinar e poder decidir por si
mesmo. A cidadania sempre se destacou em locais públicos, aonde as decisões
construídas baseavam se um no outro, isto é decisões construídas através de
vínculos, acordos, alianças.
A fusão da cidadania com os Direitos
Humanos de deu através do discurso jurídico moderno, um relato fundador,
manipulador e gerador de dependências.
A teoria do Direito da mediação vê
as concepções de cidadania e direitos humanos como formas sinônimas, como um
programa de qualidade total de vida .
1.2 Agora as coisas
podem mudar
No inicio do século XXI começou a
surgir um novo paradigma jurídico-cultural, o paradigma da mediação, que é
baseado na cidadania e nos Direitos Humanos.
Os Direitos Humanos estão
diretamente ligados à própria condição de ser homem, independentemente de
atributos sociais, intelectual, virtude moral ou talento de qualquer tipo. Os
direitos do homem são primeiramente os direitos do outro homem, isto é, são os
deveres do homem para com os outros homens.
Atualmente o cidadão esta perdido no
anonimato, ele é um espectador passivo de seus próprios conflitos e também dos
do outro. Atualmente o cidadão esta na democracia dos silenciados e no
exercício de uma cidadania do silêncio. Se não participo não existo como
cidadão, o importante é participar dos relacionamentos com o outro , poder
mediar as próprias relações para assim poder participar das decisões participativas
e comunitárias..
Se eu não consigo me encontrar
comigo mesmo e com a minha auto-estima como poderei participar das ações
públicas? Exercer a cidadania não é só participar, mas participar exercendo
autonomia.
1.3 O sujeito Kitsch
O sujeito Kitsch é uma pessoa vazia
de vida interior, que é capturado por movimento ágeis e sem destino, com uma
personalidade obsessionada pelos meios em que vive, uma pessoa fechada em si
mesma e em tudo o que faz.
1.4 Receita da
modernidade
A
modernidade se baseia na combinação de ciência, de ética e de arte. A
modernidade antecipou as coisas, ela trocou a poupança pelo gasto antecipado e
pelas ações, ela trocou a compra sem dinheiro pelo cartão de crédito que é nada
mais do que uma promessa de pagamento, o capitalismo roubou a cena. A cidadania
e os Direitos Humanos estão reduzidos a possibilidade de ter alguma coisa.
1.5 Desconstrução
A desconstrução é baseada em
considerações sobre a banalização da guerra e a morte. A desconstrução é a
autodestruição, a realização do mal que esta no centro da razão e da condição
moderna.
A condição moderna começou a ser
invadida pelo desencanto, começou a surgir um momento posterior a modernidade,
marcado pela desilusão em relação aos fundamentos universalistas, é uma
pós-modernidade que se constrói na desconstrução do eu moderno e da
racionalidade, uma desconstrução nascida no interior da arte moderna.
Atualmente estamos diante de uma
nova concepção de cultura. Dispostos a construir desconstruindo todo tipo de
dispositivo que antes era considerado
imodificável.
1.6 Uma estratégia
Atualmente a desconstrução pode ser
vista como uma estratégia para os procedimentos de mediação. O mediador tem que
ajudas as pessoas se construir e a andar por suas próprias margens. O mediador
precisa ajudar as partes a desconstruírem-se, desmontarem sua personalidade,
para que possam aparecer os seus aspectos positivos e negativos, suas
fragilidades e fortalezas, seus medos, as suas angústias e as suas metas. O
mediador deverá mostrar as partes do conflito os fragmentos de sua vida, as
ambigüidades, a insatisfação em seus relacionamentos. Ele tem que trabalhar com
um processo de reconstrução do pensamento, dos sentimentos, da sensibilidade e das
condutas.
1.6.1 A transciência
Com a transciência temos a predisposição em pensar a impossibilidade
das totalidades, o anseio de não trancar os sistemas, mas de abri-los, de
dividi-los, de liberar a todos de propostas estreitas da realidade atual, que
negam a multiplicidade, em nome de leis antigas ultrapassadas universais e
imutáveis.
A transciência atualmente vai
libertando uma racionalidade fechada, vai tendo um diálogo com a natureza não
com a intenção de dominá-la, mas sim para interagir.
1.6.2 Subjetividades
renovadoras
O dispositivo é uma estratégia muito
importante na mediação, através dela o mediador pode conseguir a importância de
provocar o inesperado em meio a uma crise no conflito que trata de mediar e que
parece impossível de solucionar ou modificar.
1.7 O Direito e a
modernidade
O Direito moderno que era pomposo, que
possuía discursos modernos conjugados com discursos de ordem, de verdades e de
pureza, foram gradativamente perdendo o seu espaço e os seus poderes encantados
e dando lugar para rotinas cansativas e burocráticas.
Com o surgimento da pós-modernidade
jurídica, uma nova qualidade de juristas vem se destacando e pensando de uma
nova forma, deixando de lado a confecção de uma literatura jurídica erudita,
pomposa e simulada, para escrever de forma pós-moderna misturando estilos no
modo de pensar do direito, abrindo cada vez mais espaço para o paradigma da
mediação.
1.8 O espaço
simbólico da cidadania
Os Direitos Humanos e a Cidadania
vistos por um novo prisma, através de uma visão positiva do conflito, fora da
temática normativa, simplesmente dentro do conflito, como um modo de
relacionamento de um com o outro. É o direito de decidir por si só, por seus
sentimentos, sem que outras pessoas digam o que é bom ou ruim sentir, é a
cidadania como forma de construir o amor por nós mesmos, o direito de decidir
como aprender, amar, querer.
2. A construção ética
da outridade
2.1 a outridade
A outridade é vista
como o espaço construído com o outro para realização da ética, da
autonomia e da configuração de outra concepção de Direito e de sociedade.
È A outridade é o encontro consigo
mesmo através do outro, através do vínculo. A outridade define a natureza ética
que une cada homem com o seu semelhante.
2.2 A ética como
alteridade
O ser como alteridade representa uma
fuga ao intelectualismo moderno e clássico. A alteridade ética é urgente nos
tempos atuais, é de extrema tristeza, com pessoas saturadas que se desesperam
para fazer compras de última hora, baseada no bem estar, no conforto e nos
êxitos pessoais acima de tudo. São
pessoas fora de controle, vivendo em cidades crescidas tecnologicamente, mas
cujos habitantes vem perdendo o sentido comunitário, tornando-se cada vez mais
egoístas, desconfiados e violentos.
Captamos o rosto na expressão das
palavras, e captar o outro , em seu rosto não é fácil. O alheio é sempre
complexo, inesperado, perturbador, difícil. Captar o outro serve como espelho
aonde vemos as coisas que são insuportáveis em nós mesmos e não queremos
enxergar. Captar é ter uma observação ética sobre o outro, é importante na
medida em que possamos descobrir a nossa honestidade, conosco e com os outros.
2.3 Quem é o outro?
O outro é o outro, não somos nós. É
uma violência reduzir o outro a nós. O outro é visto como o que nunca poderemos
conseguir, o ser sempre fugitivo de nós, o outro é visto como o lugar e a
presença permanente do inacessível, que só poderemos fingir possuir,
reduzindo-o, pensando e nos enganando que ele é igual a nós.
O rosto pode ser entendido também
como a força moral do outro. A resistência do outro não nos faz violência, como
eu chegarei a esse outro que me espera para que eu possa aprender com o seu
rosto a responsabilidade? O outro e seu rosto não podem ser pensados, mas tem
que ser sentidos. O que nos aproxima do outro é a sensibilidade, pensar no
outro sem senti-lo é destruir o seu rosto.
Somos responsáveis por nós e pelos
outro, o outro porque ele é o que nós, vocês e eu fizemos dele, o outro para
existir precisa escapar de nosso controle, precisa de autonomia e conhecimento
adquiridos por si só.
O grande problema da magistratura é
que ela decide sobre os conflitos que lhe são alheios, sem sentir os outros do
conflito. Encaixa o conflito num modelo existente sem sentir as partes. Para os
juízes o outro não existe, sempre decidem baseados em si mesmos, em seus egos.
Decidem sem responsabilidade, porque projetam a responsabilidade na norma do
Direito. Os juízes decidem conflitos sem relacionar-se com os outros e com os
rostos. A decisão dos juízes são sem alma, sem expressão, sem sentimento, sem
rosto.
3. O juiz cidadão
3.1 O Direito da
cidadania e a justiça cidadã
Uma nova concepção do Direito e da
justiça estão surgindo baseadas na cidadania e no nosso Direito de nos amar, de
buscarmos uma melhor qualidade de vida. Um Direito que não esta mais centrado
em normas, uma justiça não mais centrada em valores, mas no cotidiano . A justiça cidadã visa
humanizar o Direito, reduzindo o poder normativo a uma expressão mínima a ser
aplicada.
3.1.1 Voz a cidadania
A
tarefa de dar voz a cidadania depende da justiça cidadã, através de programas
de cidadania, de juizados de cidadania, onde as pessoas possam sair do silêncio
imposto a elas e recuperar a voz.
3.2
Projeto de humanização da Magistratura
Catarinense
O
projeto do tribunal atende a vários objetivos fundamentais, um projeto
multirevolucionário. O processo de humanização da magistratura coloca os juízes
diante de vários desafios, dentre eles o de maior importância tem haver com a
reformulação do pensamento jurídico, fazendo com que ele se torne mais humano,
mais participativo e menos pomposo.
3.2.1
¨Fazer sua própria cabeça¨
Vale
mais a cabeça bem feita de um sábio do que a de um homem cheio de saberes
fragmentados e incompletos. O importante no significado de uma cabeça bem cheia
e toda fragmentada é que ela não dispõe de nenhum princípio de seleção de
saberes, são informações guardadas fora de ordem, muitas vezes obsoleta.
Uma
cabeça bem feita produz competências de modo geral e não específico. È uma
cabeça para organizar os conhecimentos e com isso evitar o acúmulo do que é
supérfluo, inútil.
A
sabedoria estimula o emprego da inteligência e da solução dos problemas.
Estamos diante do desafio de repensar o pensamento para assim permitir o pleno
emprego da inteligência.
3.2.2
O cuidado com a vida
O
ponto de partida do conhecimento é o ser humano, temos que ter um tipo de
pensamento que nos ajude a nos preparar para a vida, que nos ajude a nos
compreender e a compreender os outros.
A
educação tem que ser diferente do ensino, deve nos ajudar a assumir o humano,
como a única forma de nos ajudar a aprender a viver. O humano é complexo e
alimenta-se cós conflitos e do antagonismo entre as pessoas.
3.2.3 O pensamento
cio complexo
O pensamento complexo como compreensão do
humano deve juntar-se ao surrealismo. O surrealismo denuncia uma vida vivida
entre os destroços do Direito romano, a queda geral da revolução cristã e o
fracasso da ciência mecanicista em termos de felicidade no passado. Na
modernidade a intervenção surrealista introduz um novo formato para a
cidadania.
A intuição surrealista nos diz que a
salvação do homem tem que passar pela sua própria desintelectualização poética.
3.2.4
Cidadania surrealista
O
único formato com que o homem de hoje conta para compreender a viagem de
humanização do humano é o surrealismo, para isto ele tem que procurar a
cidadania surrealista e descobrir algumas lições desta difícil busca.
Para
o surrealista a realidade deve sempre ser construída poeticamente, a vida é
algo que deve ser amado com fervor. O cidadão surrealista e um cidadão poético
e sensível. Para os surrealistas o conhecimento
e a sabedoria não são um dom que se possa entregar, são dons que se
conquistam.
3.2.5
Repensar o pensamento
Os
Direitos internos do homem afirmam a idéia de que a transformação da sociedade
é possível, e que ela depende da
transformação do homem. Os Direitos internos baseiam-se em uma reserva de
sensibilidade, que é uma reserva de poesia.
3.3
A espiritualidade do magistrado
Em
um sentido geral e amplo, o juiz cidadão é uma pessoa que realiza parte de sua
cidadania surrealista por meio da sua função humanizada aplicada na
magistratura.
É
no espírito do legislador ou no espírito da lei que se encontra a mais genuína
fonte do Direito. O juiz cidadão é o juiz de visão abrangente, que troca o tipo
e os conceitos pela forma de ver o que pensa como poética. A ética para este
juiz é poesia e sua intervenção é usada na solução dos conflitos como gestão de
potencias.
3.4 Juizados de
cidadania
A
justiça Catarinense tem um projeto de juizados de cidadania denominado Casas da Cidadania, este projeto
esta em fase inicial. Os julgados de cidadania levam, neles mesmos, o
compromisso de humanização na magistratura.
Os juízes que trabalham neste projeto precisam recompor os seus vínculos, se
assim quiserem ajudar as pessoas a reencontrarem – se na realização de seus
vínculos pessoais de cidadania.
A
cidadania e os Direitos Humanos terminam agindo em conjunto, com uma aposta no
vínculo para que não fiquem sozinhos. Todos nós somos vulneráveis e precisamos
de um tipo de cidadania especial que nos ajude a superar isso.
Parte III
O Pensamento complexo
e a qualidade de vida
1.O sentido da vida
1.1 A
complexidade da subjetividade e do real
O
terceiro milênio chegou absolutamente desacreditado no ocidente. São sociedades
que criam homens loucos, alienados, co-dependentes e sem nenhum olhar
inteligente sobre a sua própria pessoa. A realidade foi construída em cima dos
meios de comunicação, que são formas do real
que não precisam de palavras para construir a virtualidade. O que
comanda é uma inteligência cega que faz com que os homens fujam de si mesmos.
1.2 Vazio
existencial
O
fim existencial da modernidade nos
coloca a frente de um esgotamento do estilo de vida por ela proposto, por isso
a sensação de vazio existencial. As preocupações com o sentido da vida estão
ligadas a necessidade e aos cuidados consigo mesmo.
Para
se melhorar a qualidade de vida é preciso realizar a autonomia, é preciso
sensibilizar-se com as enormes carências
dos saberes da modernidade e entender que um pensamento que nos mutila nos
conduz necessariamente a ações
condizentes com este pensamento.
1.3 Uma
política de civilização
A
cultura da informática não deixará nada no mundo sem se revolucionar, podemos
ate passar os limites do inimaginável. Vivemos em uma sociedade com pessoas
hiperdependentes emocionais, aonde domina uma realidade virtual que persuade e
que controla as pessoas, sem a mediação de argumentos. É um tipo de convencimento
para homens presos em novas formas de extermínio de sua autonomia, criando
assim um empobrecimento da experiência mostrada pelos meios como se fosse a
auto-evidencia do instantâneo. São culturas que deixam o homem sem herança,
condenados a buscar e a reencontrar a
sua cultura.
CAMACHO,
Samanta. Surfando na Pororoca - O Ofício do mediador - Warat. Portal
Jurídico Investidura, Florianópolis/SC, 26 Mai. 2008. Disponível em: www.investidura.com.br/biblioteca-juridica/resumos/negociacao-mediacao/100.
Acesso em: 03 Jun. 2014
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