Café com Warat
Por: Vladimir de Carvalho Luz
Warat acalentava a ideia de abrir uma faculdade de direito em Curitiba. Havia uma criativa corruptela que já marcava o nome da Faculdade: LAW – Luis Alberto Warat. Sua logomarca era um pinguim que sugeriria uma ruptura de padrões. Warat achava que o problema do ensino jurídico era justamente a sua “pinguinização”, com a qual juristas se comportavam, se vestiam e pensavam todos iguais.
O projeto do curso era, como Warat, único. Arte com eixo básico. Locais fundamentais da escola: um circo e um café, e não salas de aulas. Ao lado das disciplinas obrigatórias, o mais importante era dança (para professores e alunos). Fui convidado para fazer parte do corpo docente deste inusitado projeto. Nem pestanejei. Fui até Curitiba algumas vezes. Numas dessas ocasiões, quando da visita in loco da Comissão da OAB, vivenciei um momento raro.
Estava em
um hotel no centro de Curitiba. Desci para tomar café. Lá estava Warat. Sentei
ao seu lado. Passamos boa parte da manhã conversando. Na época estava
elaborando o projeto de minha tese justamente sobre uma das mais importantes
reflexões waratianas: o senso comum teórico dos juristas.
Luis Alberto (como era chamado por Marta Gama) falou sobre seu pai, sua infância; tratou de fatos pitorescos sobre Cossio, Nino. Falou de sua fraternal relação com Albano. Foi então que me revelou de onde nasceu a ideia do neologismo “senso comum teórico dos Juristas”. Disse que tal ideia nascera quando da leitura de Althusser (Filosofia e Filosofia espontânea dos cientistas). Eu já desconfiava das origens estruturalistas (Althusserianas ou mesmo bourdieunianas) dessa ideia, ainda que indireta ou inconscientemente.
Luis Alberto (como era chamado por Marta Gama) falou sobre seu pai, sua infância; tratou de fatos pitorescos sobre Cossio, Nino. Falou de sua fraternal relação com Albano. Foi então que me revelou de onde nasceu a ideia do neologismo “senso comum teórico dos Juristas”. Disse que tal ideia nascera quando da leitura de Althusser (Filosofia e Filosofia espontânea dos cientistas). Eu já desconfiava das origens estruturalistas (Althusserianas ou mesmo bourdieunianas) dessa ideia, ainda que indireta ou inconscientemente.
Lembro
deste momento como algo muito importante para minha trajetória, algo que marca
meu currículo oculto. Naquela manhã eu não estava diante do meu ídolo de
juventude, do mestre de uma geração desbravadora da critica jurídica no Brasil.
Naquele momento, estavam ali duas pessoas conversando sobre coisas em comum, rindo
da vida e de si mesmos, sem nenhuma pretensão “séria”.
Haveria espaço para estes encontros hoje em dia, em nossas rotinas docentes? Nossos currículos lattes comportariam, em algum lugar, o item específico “café com Warat”? Aliás, pouco importa para esta lembrança coisas como lattes e rotinas pedagógicas. Lembro que, entre um gole de café e os suculentos – e hoje politicamente incorretos – ovos mexidos, Luis, o portenho-brasileiro mais baiano do mundo, dizia: “Vladimir, a vida é uma ilusão, precisamos ter as boas, as boas ilusões”.
Haveria espaço para estes encontros hoje em dia, em nossas rotinas docentes? Nossos currículos lattes comportariam, em algum lugar, o item específico “café com Warat”? Aliás, pouco importa para esta lembrança coisas como lattes e rotinas pedagógicas. Lembro que, entre um gole de café e os suculentos – e hoje politicamente incorretos – ovos mexidos, Luis, o portenho-brasileiro mais baiano do mundo, dizia: “Vladimir, a vida é uma ilusão, precisamos ter as boas, as boas ilusões”.
Que assim
seja.
12.10.2012
Vladimir Luz
Fuente: www.vladimirluz.blogspot.com
No hay comentarios.:
Publicar un comentario