Albano Pepe
12/11/09
A iluminura (texto com imagem) escolhida, serve como reflexão acerca de um legado que alimenta muitos fantasmas.
Ela pode representar o amor do trovador que nos é representado sempre como um ideal dos sentimentos imortais entre amantes. Tais imagens tranformam-se em lugares e situações imagéticas que nos tempos atuais podem funcionar como implantes colocados nos planos profundos do ser que nos constitue.
Isto me faz lembrar as memórias instaladas nos replicantes de Blade Runner, para que eles se percebessem tal os humanos, dos quais eram cópias. Tais lembranças da infância, dos pais, dos sentimentos eram retiradas da história pessoal dos seus criadores. Portanto, criador e criatura se confundiam no plano do imaginário, no plano onde pensamos o que fomos e o que somos em um processo de auto-reconhecimento que gera identidades.
Tais identidades produzem expectativas atuais, emoções existenciais que nos projetam para um futuro que pretendemos alcançar na realização das fantasias pensadas.
O tempo sub-lunar implica constantemente a construção e reconstrução de tais memórias, que significam...
No entanto, o real que articula-se em nossas vidas denega o sentido de tais imagens-memórias ao tentarmos estabelecer vínculos que reproduzam tal condição do amar em nós implantada.
Tal replicantes, passamos a perceber, não sem uma imensa dose de angústia, que nossas memórias não representam vivências, mas sim simulacros de sentimentos por nós nunca experimentados, senão como mímesis, recriações da realidade que nunca habitaram nossos existenciais. Simulacros que tentam disfarçar a única condição humana possível: a solidão.
Lamentavelmente diante de tais representações nunca mergulhamos efetivamente no ser que somos que, entre outras coisas, poderia amar o outro sem renunciar ao estado de solidão em que se colocariam um e outro.
A superação de tal estrutura só pode ser rompida, no meu entendimento, com a paixão, movimento tresloucado que desprovido de modelos a seguir - pois dela não há lembranças -, exprime o profundo desejo do viver, absolutamente, cósmicamente, num salto para além da existência sub-lunar.
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