25 de noviembre de 2009

Educação: um tema recorrente; mais um diálogo entre... “Cara de paisaje, cuerpos desaparecidos. Todos disciplinados”. Com este título, Warat escreve

...o texto abaixo (com tradução minha), que recepcionei como um reinício de nossos diálogos momentaneamente interrompidos. Está publicado na página de seu blog – Casa Warat UNISUP - do dia 19 de novembro de 2009. Pretendo que o mesmo re-inaugure uma conversação alegre e descontraída, visto que o tema é um verdadeiro “ninho de vespas” de onde “ferroadas” podem vir de todos os lados. Digo isto porque nós que habita(va)mos o mundo acadêmico, sabemos que sob a égide da pedagogia abrigam-se os mais diversos e contraditórios discursos, típicos da Torre de Babel que é o sistema educacional instituído e oficial.
Portanto, este é o primeiro movimento “alegro ma non tropo”, apresentado como um diálogo entre dois narradores.

- Warat:
Albano, quero te contar algumas coisas que por suposto já sabes.Estou em um festival de cinema e Direito, onde travou-se uma rica discussão sobre as coisas que temos discutido diariamente: o fim do modelo educativo racional e a necessidade de discutir que tipo de educação queremos para amanhã. Outro dia, quando eu e membros da Casa Warat, fomos ver se poderíamos sonhar juntos com as Mães da Praça de Maio. Gregorio o coordenador geral da Mães, um velho amigo das sempre renovadas lutas me disse algo que provocou uma forte comoção em minha sensibilidade racional (equivalente a que Marta Gama provocou quando me disse que a faculdade de direito lhe havia roubado o corpo). Gregorio me disse que não só os militares provocaram o desaparecimento dos corpos. (para ele) A educação, inclusive na democracia provoca o desaparecimento de todos os corpos educados. O conhecimento, a educação reinante são semiocídios, que completam os momentos de extermínio concreto dos regimes totalitários, tal como os do processo Videliano and company. Somos todos, devires de subjetividades em corpos desaparecidos.
Tudo começou quando começamos a esquecer-nos que somos animais racionais e nos reivindicamos só como racionais. Este foi o primeiro ato de desaparecimento do corpo, daí começamos a ser desaparecidos até chegar ao ponto de vivermos em sociedade de desaparecidos. E a coisa continua com a disciplina, com este maldito modelo de educação, a partir de fragmentos disciplinares apoiados numa erudição, que, como toda erudição, é uma forma da ignorância, a ignorância erudita, esta que não sabe fazer nada com a informação, aterrorizada com tanto brilho. Por mais que ilustremos a informação, ela não se torna inteligente. A inteligência não brilha, apenas nos transforma, silentemente. A transformação de nosso devir subjetivo, seja individual ou coletivo, tem de ser silente. O escândalo revolucionário não é criativo e não modifica nada. O escândalo contém um forte componente autoritário. Temos que dizer basta ao saber por disciplinas. Barthes tinha razão. Temos que substituir as disciplinas por seminários. Estes últimos têm que ser dialógicos, carnavalizados, dionisíacos, com a ordem mais desordenada e aleatória possível. Por isso Barthes organizava seus seminários na Escola de França alfabeticamente.
- Albano:
Vou colocar como iluminura deste diálogo, que convêm salientar não está amparado no modelo do diálogo de surdos típico dos acadêmicos, a figura do Chapeleiro Maluco, visto que as iluminuras podem ilustrar melhor os caminhos que pretendo percorrer neste breve relato. O Chapeleiro é um personagem onírico que acontece nos sonhos de Alice, sonhada por sua vez por Lewis Carol. A partir destes lugares-personagens posso pensar a des-ordem, o Caos, a ausência de um sistema de ordenamentos que estabelecem “sentido” para os habitantes do mundo sublunar, marcado pelo tempo histórico. Mas, alguns destes habitantes percebem fissuras nestas densidades espaço-temporais, nestas densidades institucionais produzidas para ancorar os animais pensantes que somos. Tais fissuras, tais brechas negam o totalitarismo das práticas discursivas absolutas; e assim, produzem outras densidades, sutis e plenas de novos sentidos, que por sua vez libertam as subjetividades aprisionadas nos “corpos desaparecidos” a quem te referes querido amigo.
A modernidade produziu estrategicamente instituições, instituídas de tal forma como se existissem desde sempre. “Inventou” garantias para os humanos e suas comunidades, fundadas nos princípios da ordem e do progresso; do desenvolvimento tecnológico e do consumo de bens renováveis. Assim disciplinou os corpos e as vontades, articulados tal marionetes para que respondessem tão somente aos estímulos condicionadores. Nossos corpos estão ausentes de nós mesmos porque de nós foram alienados pelos filtros de sistemas educacionais produzidos para a geração do esquecimento, esquecimento de nossa ancestralidade cósmica, filha do Caos, ou seja, da constante densidade do instituinte que nunca se faz instituído, pois devir permanente.
O instituído é o Leviatã que a todos pretende submeter através dos signos postos como significante únicos produtores das máquinas racionais educativas. A nós cabe o permanente deslocamento, o estado do nomadismo, errantes de muitos lugares, errantes em um mesmo lugar, onde o instituinte não nos alcance, ali onde o Chapeleiro Maluco se movimenta, no Caos.
Des-velar, retirar os véus que encobrem os lugares eruditos das falas dos mortos, é nosso modo de ser, desiderato dos pedagogos comprometidos com a emancipação dos seres oníricos e amorosos que somos, pois desejantes em nossa infinita finitude.


sonhar, tão somente sonhar...


... o texto abaixo (com tradução minha), que recepcionei como um reinício de nossos diálogos momentaneamente interrompidos. Está publicado na página de seu blog – Casa Warat UNISUP - do dia 19 de novembro de 2009. Pretendo que o mesmo re-inaugure uma conversação alegre e descontraída, visto que o tema é um verdadeiro “ninho de vespas” de onde “ferroadas” podem vir de todos os lados. Digo isto porque nós que habita(va)mos o mundo acadêmico, sabemos que sob a égide da pedagogia abrigam-se os mais diversos e contraditórios discursos, típicos da Torre de Babel que é o sistema educacional instituído e oficial.
Portanto, este é o primeiro movimento “alegro ma non tropo”, apresentado como um diálogo entre dois narradores.

- Warat:
Albano, quero te contar algumas coisas que por suposto já sabes.Estou em um festival de cinema e Direito, onde travou-se uma rica discussão sobre as coisas que temos discutido diariamente: o fim do modelo educativo racional e a necessidade de discutir que tipo de educação queremos para amanhã. Outro dia, quando eu e membros da Casa Warat, fomos ver se poderíamos sonhar juntos com as Mães da Praça de Maio. Gregorio o coordenador geral da Mães, um velho amigo das sempre renovadas lutas me disse algo que provocou uma forte comoção em minha sensibilidade racional (equivalente a que Marta Gama provocou quando me disse que a faculdade de direito lhe havia roubado o corpo). Gregorio me disse que não só os militares provocaram o desaparecimento dos corpos. (para ele) A educação, inclusive na democracia provoca o desaparecimento de todos os corpos educados. O conhecimento, a educação reinante são semiocídios, que completam os momentos de extermínio concreto dos regimes totalitários, tal como os do processo Videliano and company. Somos todos, devires de subjetividades em corpos desaparecidos.
Tudo começou quando começamos a esquecer-nos que somos animais racionais e nos reivindicamos só como racionais. Este foi o primeiro ato de desaparecimento do corpo, daí começamos a ser desaparecidos até chegar ao ponto de vivermos em sociedade de desaparecidos. E a coisa continua com a disciplina, com este maldito modelo de educação, a partir de fragmentos disciplinares apoiados numa erudição, que, como toda erudição, é uma forma da ignorância, a ignorância erudita, esta que não sabe fazer nada com a informação, aterrorizada com tanto brilho. Por mais que ilustremos a informação, ela não se torna inteligente. A inteligência não brilha, apenas nos transforma, silentemente. A transformação de nosso devir subjetivo, seja individual ou coletivo, tem de ser silente. O escândalo revolucionário não é criativo e não modifica nada. O escândalo contém um forte componente autoritário. Temos que dizer basta ao saber por disciplinas. Barthes tinha razão. Temos que substituir as disciplinas por seminários. Estes últimos têm que ser dialógicos, carnavalizados, dionisíacos, com a ordem mais desordenada e aleatória possível. Por isso Barthes organizava seus seminários na Escola de França alfabeticamente.
- Albano:
Vou colocar como iluminura deste diálogo, que convêm salientar não está amparado no modelo do diálogo de surdos típico dos acadêmicos, a figura do Chapeleiro Maluco, visto que as iluminuras podem ilustrar melhor os caminhos que pretendo percorrer neste breve relato. O Chapeleiro é um personagem onírico que acontece nos sonhos de Alice, sonhada por sua vez por Lewis Carol. A partir destes lugares-personagens posso pensar a des-ordem, o Caos, a ausência de um sistema de ordenamentos que estabelecem “sentido” para os habitantes do mundo sublunar, marcado pelo tempo histórico. Mas, alguns destes habitantes percebem fissuras nestas densidades espaço-temporais, nestas densidades institucionais produzidas para ancorar os animais pensantes que somos. Tais fissuras, tais brechas negam o totalitarismo das práticas discursivas absolutas; e assim, produzem outras densidades, sutis e plenas de novos sentidos, que por sua vez libertam as subjetividades aprisionadas nos “corpos desaparecidos” a quem te referes querido amigo.
A modernidade produziu estrategicamente instituições, instituídas de tal forma como se existissem desde sempre. “Inventou” garantias para os humanos e suas comunidades, fundadas nos princípios da ordem e do progresso; do desenvolvimento tecnológico e do consumo de bens renováveis. Assim disciplinou os corpos e as vontades, articulados tal marionetes para que respondessem tão somente aos estímulos condicionadores. Nossos corpos estão ausentes de nós mesmos porque de nós foram alienados pelos filtros de sistemas educacionais produzidos para a geração do esquecimento, esquecimento de nossa ancestralidade cósmica, filha do Caos, ou seja, da constante densidade do instituinte que nunca se faz instituído, pois devir permanente.
O instituído é o Leviatã que a todos pretende submeter através dos signos postos como significante únicos produtores das máquinas racionais educativas. A nós cabe o permanente deslocamento, o estado do nomadismo, errantes de muitos lugares, errantes em um mesmo lugar, onde o instituinte não nos alcance, ali onde o Chapeleiro Maluco se movimenta, no Caos.
Des-velar, retirar os véus que encobrem os lugares eruditos das falas dos mortos, é nosso modo de ser, desiderato dos pedagogos comprometidos com a emancipação dos seres oníricos e amorosos que somos, pois desejantes em nossa infinita finitude.

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