19 de septiembre de 2009

Diálogos entre dos patafísicos

As coisas, não as palavras

Que tal pensarmos as coisas sem nomea-las? Sem batiza-las de isto ou aquilo? Deixando apenas que a Palavra aurática manifeste-se em nós, em nossos corpos como suaves ou bruscas vibrações.
Que tal deixarmos aos sentidos a função de nos revelar o nosso entorno? E, ao mesmo tempo, nos revelar ao entorno, como num desnudamento onde o vestuário dos enunciados, das frases de efeito, das definições prévias, dos neologismos, simplesmente vá se esvaindo, se esmaecendo até que a nudez aconteça sem sustos nem alardes, como um acontecimento qualquer?
Que tal abrirmos nossos corpos sensíveis (normalmente impedidos de sê-los) aos movimentos gestados pelo Cosmos e o que o anuncia enquanto luz, enquanto som, enquanto imagens, enquanto sensações térmicas, enquanto cheiros, enquanto sabores? Sem nada nomear, apenas sentir.
Que tal escancararmos as portas e as janelas de nossas moradas, para que assim possamos nos ver sem as restrições habituais que costumamos antepor ao olhar, ao escutar, ao sentir? Que tal abandonarmos nossos “voyerismos”, plenos de apreensões clandestinas das intimidades do outro, para tão somente olharmos e nos deixarmos olhar? Diria o poeta Roberto Carlos: “janelas e portas vão se abrir, pra ver você chegar”, pensando no exílio de Caetano Veloso. Não precisamos tão somente abrir portas e janelas para quando o exilado chegar, pois exilados somos todos nós, de nós próprios e dos outros, trancafiados que estamos nas quatro paredes de nossos egos.
Que tal reaprendermos o uso da Palavra que é elaborada “poieticamente”, num fazer-se que envolva cada momento do existir, quando o gesto poderá acontecer como se fosse único, derradeiro e irrepetível?
Que tal elaborarmos as perguntas sem a angústia das respostas esperadas ansiosamente? Lembremo-nos que as perguntas já trazem consigo as respostas previsíveis.
Que tal perguntarmos tão somente? Porque viver já é por si mesmo um permanente espantar-se. Recuperemos nossa capacidade do encantamento. Perguntas prenhes de respostas gestam des-encantamentos.
Que tal deixarmos a procura da verdade para aqueles que cultivam a mentira? O excesso de frases e argumentos explicativos geram emaranhados de palavras vazias de sentido que são anunciadas em nome da verdade e da mentira.

Albano

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