
(Tema do filme The Lord of the rings)
Dias de nevoeiros. A massa cinzenta e úmida que encobre e envolve a Serra, guarda em seu útero minha morada. Através das janelas observo um mundo em tons pastéis. Toda a natureza envolta pelos véus molhados e frios que ocultam uma paisagem familiar. Eu a adivinho pela lembrança que guardo. As trilhas desaparecem e com elas meus rastros, o tênue fio que pode indicar o caminho da volta. Ouço de algum sítio ruídos que se assemelham ao trinado de algum pássaro, o latido de algum cachorro, do humano nada escuto senão aquilo que aleatoriamente a memória faz acontecer.
Meus pensamentos levam-me aos elefantes, paquidermes geográficos, habita

Esta caminhada o levará inexoravelmente ao lugar onde estão depositados os restos mortais dos seus ancestrais, daqueles que um dia pertenceram, assim como ele, àquela manada. Tal caminhada é longa e de grande duração no tempo cósmico que é peculiar à physis. O tempo permanente do Cosmos, do movimento contínuo só apreensível quando se alcança a condição criadora da demiurgia, um estado de criação entre o planetário e o divino.
Seus passos iniciais são inseguros, seus sentidos palmeiam os caminhos já percorridos como que quisesse retê-los de algum modo. Ainda olha para trás, saudoso do que já foi. Mas, aos poucos, deixa-se envolver por sua Memória Ancestral, o que foi já morreu com sua singularidade, ele começa a dissolver-se para reassumir sua condição de espécie numa relação única com as demais espécies, com a Vid

Os nevoeiros se desfazem pouco a pouco e, pela primeira vez, sente a plenitude deste habitat passageiro e evanescente, mas profundo. Seus sentidos começam a capturar todos os movimentos, todos os sons, todas as fulgurações luminosas de um sol que nunca se põe. Seu corpo começa a vibrar em um estado de êxtase único, pois finalmente pode viver em harmonia com o todo, com o universal que gestou sua existência. Não se dirige para a morte como quem sobe num cadafalso onde a vida lhe será ceifada violentamente. Apenas dirige-se para a morte como condição maior de sentido da sua existência. E é para isso que a caminhada se anuncia e acontece.
Assim também devemos ser enquanto pertencentes a uma entre tantas espécies: a espécie humana. Porque as formas de vida que habitam Gaia, todas trazem consigo uma destinação, um fim a ser alcançado. Devemos tão somente estar atentos aos momentos singulares que anunciem o início da nossa caminhada final, única para cada um de nós humanos. Distanciados desde sempre dos vínculos instintivos, pois animots, pois alteru, vivenciando este outro entre dois. Cabendo a cada um recuperar para si e para a espécie, a compreensão deste legado que é a Vida. Dizia Benjamin que cabe ao passado - que pode nos acontecer como um agora - iluminar o presente, nunca o contrário. E o passado nos leva irremediavelmente à compreensão da finitude. Esse passado que não é apenas de cada um, é o passado de todos, inscrito na saga da existência humana.
Fundamental que reflitamos sobre esta condição, principalmente porque estamo

A história de nossas vidas esta inscrita em um relato único e ao mesmo tempo comum à espécie. Enquanto inscrição pessoal mostra-nos que somos legatários da Palavra Ancestral que nos conduziu à condição humana. E, enquanto um entre tantos outros iguais, herdamos a humanidade, nossa e de todos. Estas são algumas coisas que não deveriam ser esquecidas, mas que se perderam para muitos de nós. O resgate desta herança guardada na Memória, ao ser reassumido possibilita a compreensão do necessário vinculo amoroso, não apenas com os da mesma espécie, mas com todas as manifestações da Vida Planetária, visto que todas as coisas se farão presente ao reconhecermos o início do fim da caminhada em direção à luminosidade que pode nos revelar ao que viemos.
Albano Pêpe
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