Somos feito de tirania e amor. Essas coisas todas que nos compõe, irão se manifestar, ou não, ao longo da vida.
No processo de auto-conhecimento os confrontos com lados obscuros são inevitáveis. E esse confronto não se dá só com coisas, aparentemente ruins. Há alguns anos atendendo policiais percebi que eles, por terem seu lado sombrio estampado, sem possibilidade de negação, traçam um processo terapêutico interessante. Lentamente resgatamos partes luminosas e positivas que eles viram ser soterrados pelo exercício do ofício.
Na grande maioria das vezes ocorre ao contrário, o paciente chega acreditando que tudo de ruim está fora dele, que os outros são os grandes tiranos. Chegam colados na velha máxima de Sartre, "O inferno são os outros".
A conscientização dos nossos aspectos sombrios e inconsciente tem profundo impacto pessoal e social.
Quando comecei esse confronto, de forma consciente e muitas vezes, na maioria, contra minha vontade, fui descobrindo a grande tirana que se escondia dentro de mim.
Não é fácil, sempre digo e repito que se não fosse meu lado bom, estaria "ralada", pois meu lado mau é bem feio.
Tento clareza disto, mas nem tanta a ponto de enlouquecer, já que o extremo da consciência é a loucura, da mesma forma que seu oposto, a conscientização do que Carl G. Jung chamou de sombra pode ser libertador.
Libertador porque nos redimimos do nosso narcisismo, fazendo isso ficamos mais humildes, entendemos e sentimos a frase do "sei que nada sei". Outra conquista nesta libertação é parar de falar da vida do outro, de se preocupar com ela.
O que o outro faz já não é tão espantoso, porque no fundo já sabemos que, talvez, no lugar do outro também fizéssemos. A velha história de tocar pedra no telhado do vizinho quando o nosso é de vidro.
Faz tempo me espanto cada vez menos, outra frase "Nada que é humano me surpreende", vem dai, do confronto com as sombras. Só não se surpreende quem já fez a descida aos seus abismos. E isso é muito libertador! Não ter condições de julgar alguém é libertador, nos libera para sermos o que somos.
Isso não quer dizer que vale tudo. Se o sujeito quiser, vale, claro.
Quer dizer apenas que somos seres imorais, que precisamos construir nossas posições diante da vida e que não existe um certo e um errado. Que fazemos opções morais, fruto de grande esforço mental e emocional, e ao fazer a escolha descobrimos que dentro de nós existem opções. Eu não sou o "bem", eu escolho fazê-lo porque sei que dentro de mim existe algo que poderia cair do outro lado.
As vezes é assustador encontrar dentro de si o mal, a perversão, a inveja, o desejo de morte. Mas isso nos diz que somos apenas humanos.
Hoje eu não acredito em gente feliz, fato. E o mal extremo, assim como o bem extremo são raros. Não acredito em gente BEM resolvida, até porque os BEM resolvidos são um saco. Morram então, já se resolveram, acabou. Os do topo, com sucesso, os generosos e idolatrados...aiaiai. Tenho o péssimo hábito de procurar a falha, o defeito.
Não porque eu seja uma pessimista, ao contrário o grande efeito vem do DEFEITO. Quando a minha vida está linear, rosa e redonda é um horror, não produzo nada que preste. Trato logo de causar tumulto.
E busco o "d-efeito" pois só consigo me relacionar com pessoas em que acredite, e eu acredito no que tem problemas, que são mal resolvidos, nos infiéis, nos que sofrem. Estes, para mim, são REAIS.
Não quero me relacionar com semi-deuses.
Nessa caminhada de auto-conhecimento, coragem e confrontos vamos criando laços reais, com pessoas falhas e, por isso ricas.
Não precisamos alardear nossa sombra, mostramos para alguns poucos, aqueles que no encontro, reconhecemos.
Posso não concordar com suas falhas, posso escolher não exerce-las, mas admiro profundamente todos aqueles que tem coragem de assumir o que são.
Tornar-te quem tu és (está escrito na entrada do templo de Apolo) é a grande jornada da vida.
Extraído del blog de Andrea Beheregaray
http://wunschelrute.blogspot.com/
Extraído del blog de Andrea Beheregaray
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