17 de julio de 2009

Texto do armário - setembro de 2008

Tenho escolhido viver só com aquilo que toca.
Talvez pela dificuldade de sentir, quero estar agora apenas com aqueles que, mesmo sem saber ou entender, me ajudam a sentir...
É verdade que essa forma de estar no mundo tem me deixado um tanto solitária e silenciosa. Mas, de repente, perdi o interesse pelas pessoas, e egoísta tenho ficado apenas com aquelas que me ajudam a entrar em contato com o que ainda desconheço em mim.
De alguns eu gosto muito, de outros nem tanto, outros ainda, tenho certeza que os inventei. Alguns de vocês, quero, ainda, (des)cobrir.
É um momento bem egoísta, é verdade. Só me interessam os que têm dores, os sujos, as grandes sombras, sobras.
Ta tudo tão redondo, tão bonitinho, colorido. E eu estou bem, tudo bem. Dia de inverno com sol.
Talvez por isso vocês me interessem. Os com dor.
Desculpa colar na dor de vocês, é que careço de desespero.
Não acredito em gente feliz. Não acredito na felicidade de vocês.
Que loucura repousa no fundo da minha felicidade?
Vou interromper a terapia. Por uma questão de sanidade.
Ainda não aprendi a usar as vírgulas, nem crase.
As vírgulas, me disseram, se usa naquele momento em que se respira quando falamos.
Na pausa. Pausa? Não tenho.
Falo rápido, sorrio muito, sinto pouco. Não tenho pausas. Minha pausa é o inconsciente, mas tenho sonhado pouco, muito pouco.
Ontem sonhei com um maremoto (esperança).
Teve um dia que sonhei com um beijo (surpresa) e essa noite sonhei que dava mamadeira a ovelhinhas.
Inércia afetiva.
O médico me perguntou:
Bebe? Não.
Fuma? Não.
Usa algum tipo de droga? Não.
Pressão alta? Bem baixa.
Depressão? Não.
Bem normal... Bem normal...
Terrível esses dias felizes. Nem isso desencadeou uma crise. Nada. Branco.
Ontem sai de casa sem carteira de motorista. Bebi bastante e dirigi por um longo tempo na esperança de ser presa por um policial truculento (sem fantasia).
Queria a crise. Prisão por desacato. Choro. Nada.
Passei a tarde lendo Caio e Vinho do Porto. Caio, caio, caio...nada.
Então vim até aqui me expor para vocês, que tem dores e talvez, entendam do que sou feita. Correndo o risco de parecer bizarro.
Mas quem já me sentiu um pouquinho, não vai se espantar, nem me recriminar.
Escolhi não mandar este e-mail para quem recrimina.
Não importa, tenho uma teoria sobre a reputação.
Re-puta-ação. Construí-la é isso, andar de ré fazendo uma puta ação.
Para quê? Para que acreditem no que não somos.
Então tá. Não importa então.
Quando encontra-los farei de conta que nunca escrevi isto, e vocês, vão sorrir por dentro (sorrir pra dentro, desperdício de felicidade) e vão pensar. Louca!
Engano, normal demais, bem normalzinha.
Quero desesperar. Quem sabe ano que vem.
Preciso voltar a sentir Clarice.
Estou com saudades de Clarice.
Eu gosto de vocês. Acredito só em alguns.
Andréa B
setembro/2008


Extraído del blog de Andrea Beheregaray
http://wunschelrute.blogspot.com/

1 comentario:

braune dijo...

A loucura nos parece por alguns instantes tão lucidas que nos permitimos sermos loucos lucidos ...