9 de abril de 2010

Palavras de Albano


De Albano pra Luis:


Caro mio,

Bom escutá-lo mais uma vez e assim preservar os contatos aos quais estamos tão habituados. Em nossa conversa coloquei a metáfora do casulo enquanto rito de passagem da lagarta para a borboleta.

Com esta imagem natural, vejo um segundo nascimento de um ser mutante, como o são todos os seres vivos. Assim, também temos a chance de renascermos (sem conotações da tradição cristã oficial) em nossa caminhada neste plano sublunar e com sapiência sabermos nos desvencilhar do fardo que carregamos no mais das vezes por imposições do processo civilizatório que nos “educa”, que produz nossa “subjetividade”.
Poucos tem a lucidez da necessidade de partilhar suas próprias mutações pois alienados da sua condição de “ser”. Vivem como entes ausentes de sua condição existencial de suas finitudes e do imenso potencial que existe neles, justo por serem finitos.

Pense comigo: os seres eternos não mudam, são iguais a si mesmos ad aeternum. Não são surpreendidos pelas emoções, pelas circunstâncias, pelo passar do tempo. Imagine-se eterno, burocrata do mesmo, do desde sempre. Terrível, não é mesmo?

Somos finitos, portanto mutantes e, isto significa que podemos e devemos aceitar as dores, as privações e as desventuras daquelas coisas as quais estávamos acostumados, como se fossem “eternas”. As dores, são como o grito lancinante do recém-nascido ao absorver a primeira golfada de ar em seus pulmões, que dilata-se dolorosamente para tornar-se apto a conviver com o elemental ar. Nascer, é provavelmente a primeira das nossas mutações ao perdermos toda a segurança que o útero materno nos ofereceu. Mas não poderíamos continuar vivendo como fetos, pois, como nos ensinou Aristóteles, a potencia já se constitui como o devir para o ato.

Talvez devêssemos entender a partir daí a idéia do renascimento, ou seja, das mutações que acontecem para que cheguemos a plenitude dos nossos atos enquanto seres finitos. Da mutação primeira ( do senciente ao consciente) nada lembramos; das outras, e são tantas, nos “olvidamos”, pois alienados pelo processo civilizatório que sempre nos define e nomeia.

Mas, querido amigo, ocorrem mutações que devem ser existenciadas profundamente,pois delas não podemos nos alienar. Não mais podemos repetir com o Poeta: “quem sou, não sei. Quem fui, morri-o”. Creio, sem pretensões oraculares, que a mutação que agora vives, exige participação ativa para este momento “casulo” que experimentas. Serás, inevitavelmente um “outro”, sendo o mesmo, pois as raízes que alimentam tua vida rizomática serão as mesmas; a cartografia é que será outra.
Acredito em ti amado amigo.
Ciao

Albano

1 comentario:

Grazielly AB dijo...

Bom dia, Warat!

Adorei o texto.
Eu poderia utilizar alguns trechos em meu blog?

Abraço!

Grazy