15 de agosto de 2009

Sartre e Simone de Beauvoir.


Ontem acabei de ler Tête-à-Tête, o livro de Sartre e Beauvoir. Fazia muito tempo que um livro não me "capturava". Achei a história toda bem interessante.

Várias coisas chamaram minha atenção, simpatizei mais com Simone e achei Sartre um pequeno sedutor neurótico, incestuoso. O que não tira seu brilho, claro, mas Simone estava mais congruente com aquilo que escrevia e aquilo que praticava na vida.

Sartre fala abertamente sobre suas fantasias incestuosas com a mãe e o ódio que tinha do padrasto. Sempre se sentiu muito feio e inadequado e passou a vida conquistando as mulheres como uma forma de compensar isto:

"(...)mais tarde na vida, eu ter idiotamente desperdiçado o meu latim dizendo bobagens doces- só para provar a mim mesmo que sabia falar com as mulheres".

Outra frase interessante retrata as consequências disso e de suas fantasias incestuosas:

"Eu voltava de um encontro, a boca seca, os músculos faciais duros de tanto sorrir, a voz ainda pingando mel e o coração cheio de (...)nojo."

Algo que me pareceu extremamente contraditório com o que Sartre pregava, foi o fato de chegar ao fim da vida com nove mulheres. Sim nove! O contraditório nisso é que, tirando Simone, as demais eram todas dependentes financeiramente de Sartre, e emocionalmente também. Normalmente as suas mulheres eram frágeis e, tirando Simone e a russa, nenhuma era brilhante intelectualmente e fracassaram na vida profissional.

O ponto é que Sartre fazia questão de sustenta-las e as mantinha infantilizadas e dependentes, nada livres portanto. Elas eram exatamente o oposto do que Simone acreditava que deveria ser uma mulher livre. Isto talvez ocorresse porque Sartre sentia-se culpado em relação a elas, outra contradição, mas também porque ele necessitava desesperadamente de atenção feminina. Fiquei com a impressão de que ele nunca superou seu complexo de feiura.

Já Simone lutava contra suas contradições de forma mais consciente. No inicio da sua vida fez um grande esforço para viver de acordo com que acreditava. Sobre os tabus sexuais declarou: "eu ainda não me emancipara de todos os tabus sexuais. A promiscuidade da mulher me chocava".

O que eu não gostei muito é que me pareceu que ela fez um grande esforço no relacionamento com Sartre já ele não. Ela gravitava em torno dele, terrível para uma feminista. Já ele gravitava em torno das ideias e ela era seu suporte.

É realmente engraçado como todos precisam de algo FORTE para seguir, muitos buscam DEUS, os intelectuais fazem movimento semelhante, colocam no lugar de Deus uma teoria, ou um autor.Então se fecham, crêem naquilo e não aceitam questionamentos. Tudo que estiver contra é excomungado e afastado,não há espaço para dúvida e para critica.

Foi assim com Sartre, foi assim com Freud, foi assim com Jung. Rebanhos cegos. Pensem como eu ou afastem-se.

Bom,mas não fiquem com a impressão que não gosto do vesguinho (ia escrever Sartre,juro, mas vesguinho saiu tão naturalmente que vou manter).Acho ele genial, e valorizo a crueza com que ele se pensava. Era corajoso, sem dúvida.

Me decepcionei um pouco com a relação aberta deles. Eu acredito nos relacionamentos abertos,acho eles fantásticos pois contém a maior fidelidade que um casal pode ter, a fidelidade na verdade do que são. Mas acredito também que contar detalhes sobre os "relacionamento contingentes" é absolutamente desnecessário, perverso. A não ser claro que faça parte de uma fantasia do casal, que acho, era o caso dos dois. Os relacionamentos contingentes eram quase "experiências" intencionais para depois terem material para suas teorias e livros.

Mas enfim, gostei. Admiro todos aqueles que assumem suas vidas, se queimam por isso e mesmo assim optam por não se esconder. Acho bravo.


Extraído del blog de Andrea Beheregaray
http://wunschelrute.blogspot.com/

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