21 de julio de 2009

Das coisas nao ditas .



A porta fechou e tudo ficou em silêncio.
Era um desses silêncios altos,
Ela passou a mão nos cabelos, olhando na direção daquele som.
Deu um giro, sentou...
Ela sabia, desde de o dia anterior, que estava em apuros.
Soube assim que o relógio marcou um minuto a mais do combinado.
Quando aquela sensação antiga de abandono invadiu seu coração.
Sabia também que aquilo não era verdade,mas não importava, o fato de não ser real não diminuía sua dor.
E doía, doía, doía, uma dessas dores ocas.
Naquela noite ela aprendeu a odiar ponteiros, que marcavam lentos, o talvez,
Naquela manhã quente de verão detestou também o sol que veio buscá-lo.
Ficou ali sentada, naquele quarto claro, sozinha.
Sabia que estava em apuros,que dias tristes viriam, de desorganização e silêncio.
Sempre viveu sua dor assim, toda pra dentro, de forma silenciosa.
De olhos fechados.
Um vazio que não sabia,ele faria falta...seu cheiro e sua mão, seu carinho, o toque nos cabelos...
Seu abraço forte,seu corpo atento ao corpo dela.
A cada movimento, que mesmo dormindo ele acompanhava.
Deitou novamente e começou a repassar seus gestos, imagens, momentos.
Começou a esfriar, tapou-se.
Sabia que breve tudo aos poucos se apagaria,e que por mais que ela forçasse a memória, nada iria impedir o esquecimento.
Tirou a blusa, cheirou-a, nenhum cheiro.
Sentindo então escapar no ar a última prova de que ele estivera ao seu lado.
Doía, doía,doía...ela se abraçou com força, dizendo vai passar, calma, vai passar.
Não naquele instante...mais pra frente, talvez.
E coisas desconexas iriam começar a acontecer,sentimentos sem nome, flaschs sem cor, seu sorriso,uma ou duas lágrimas por dia...
Ela então faria café, para que o cheiro preenchesse a casa,
e também usaria roupas bonitas, para que ninguém notasse sua dor.
Muitos cobertores...
E compraria também alguns travesseiros para ocupar a cama vazia.
E tudo passaria aos poucos...
Ela esqueceria, talvez, de como ele era comum, mundano e quente.
Esqueceria o quanto combinavam, e de como ele sempre lhe fora familiar desde o primeiro instante.
Real, palpável e sensível. Com todas as culpas, grilos e sonhos de uma pessoa cotidiana.
Esqueceria de como poderia ter sido ele, com ele, para ele.
Um corpo que lhe fez pouso,
De como ele lhe dizia sério, "acho que estás muito longe..." e ela então sorria. Afastava-se de propósito, só para vez ou outra ser por ele resgatada.
O sono chegava aos poucos, e antes que tudo se apagasse voltou a ouvir sua voz,a voz rouca e doce que contava histórias e faziam contas.
Ele adorava fazer contas, havia feito da sua vida um cálculo.
Prós e contras,
Ela não conseguia nunca ouvir até o fim, perdia-se antes na curvinha arrebitada de seu queixo.
Mas ele não sabia.
Não sabia também que muitas vezes ela teve vontade de discordar, mas não o fez, pois o tempo entre eles era precioso e ela queria aproveitar.
Vontade de dizer que não acreditava naquela "felicidadezinha" inventada, ou temia muito acreditar.
Que não concordou quando ele fez do amor uma matemática triste do seis por meia dúzia.
Disse sério, que todo amor tinha vantagens e desvantagens, qualidades e defeitos.
Ela fez que sim, mas não era naquilo que acreditava.
Sabia que o amor podia ser mais intenso, mais completo, mas não ousou dizer.
E que essa era apenas a desculpa que ele encontrará para a acomodação, que no fim atinge a todos nós.
Sim, porque quanto mais o tempo passa, mas lentos nos tornamos.
A vida vai pesando aos poucos, assim como as mudanças.
Ela queria ter dito, antes que a porta fechasse, de que ela não se importava.
Que seus valores eram outros, que o dinheiro era bom, o fim, não o caminho.
De que tudo que ele estava vivendo e sendo, só lhe interessavam seus suspiros e seus prazeres.
De que tinha muito medo de não vê-lo mais.
Medo de que a memória apagasse seu abraço,e de como isso iria deixá-la mais pobre.
Ela não pode dizer também, antes da porta bater, uma porção de coisas boas.
De como tudo ia perdendo o som quanto ele lhe beijava, quando ele ia deslizando a mão pela sua cintura e derretendo geleiras dentro dela. Geleiras antigas.
Puxando ela contra seu peito,
Roubando todos os espaços, todo o movimento, ia lhe dizendo coisas...que lhe faziam esquecer quem era e onde estava.
E de como isso turvava sua visão e ela não sabia mais...
Pensou que não havia lhe dito, que tudo aquilo era só com ele,toda aquela entrega.
De mais ninguém.
E de como amava ser toda dele, só dele.
E que só ele conhecia todos os caminhos, todos os carinhos, daquele corpo nu.
Mas a porta fechou, e ela não disse, e talvez, nunca lhe diria.
E que o sono sempre vem,
Que o sonho é o que se tem, quando não se pode estar.
Postado por A.Beheregaray às 12:39

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