19 de agosto de 2007

ESSA RARIDADE CHAMADA AMOR


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"Se renuncias às dores do amor, deixas de ser um peregrino. Tua vida deixa de ser um rio que vai até o oceano, transforma-se em um charco estancado. O estancamento narcisista".
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O amor é algo muito raro de acontecer, de acordo a mensagem de Osho. A relação amorosa é um dos mistérios sagrados da existência. O encontro desarmado que duas reservas selvagens podem expressar uma para a outra. Duas flores secretas que se revelam mutuamente.

Uma revelação muito forte, já que se tem que dar tanto através dos sentidos, que as reservas selvagens podem transmitir pelos corpos e as palavras, como pelas coisas que cada um pode roubar do inconsciente amoroso do outro (a zona mais nobre da reserva selvagem, a que unicamente se chega viajando nos silêncios).

No momento em que duas reservas selvagens se encontram desarmadas, um novo mundo é criado, inscrito um devir de diferenças no tempo. Nesse novo mundo, ambos se transformam.

Quando alguém consegue amar, já não é mais a mesma pessoa. Juntamo-nos para criar uma relação, e essa criação nos cria como diferentes, (re)cria-nos no mais profundo. Um outro silencioso se apodera de nosso corpo mostrando-lhe o inédito que escondia como uma semente de mostarda (como diria Osho) que o outro do amor impulsiona a crescer.

O encontro de dois mundos selvagens em reserva é algo muito complexo. É a mais complexa das místicas. O lugar mágico mais complexo. Os conflitos que unicamente a magia pode resolver.

Os dois que se encontram vêm carregados com um longo passado, geralmente de adições, que resiste a ser desarmado. Ante a cada possibilidade de amor, a armação de defesas tende a crescer, a fortificar-se.

No começo de um caminho que leva para o amor, os encontros são periféricos. As reservas selvagens não intervêm, observam a distância. Quando uma relação cresce em intensidade e intimidade, então as reservas começam a aproximar-se, a encontrar-se mais e mais. Isso pode começar a ser chamado amor.

A periferia nunca é uma zona de amor. Quando duas periferias se aproximam, dá-se um encontro entre conhecidos.

A grande maioria das pessoas se engana, confunde os conhecidos com o amor. Uma grande falácia com um triste final, no mínimo, de desilusões.

Para amar é preciso encontrar o outro em sua reserva selvagem. Algo duro, que não é fácil, obriga cada parceiro a passar por uma revolução que o transforme, porque se queres encontrar a alguém em tua reserva, terás que permitir que essa pessoa chegue a tua reserva. Tua reserva selvagem terá que voltar a se desarmar, terá que ficar absolutamente desarmada. Algo que traz muito risco.
O amor é doloroso porque nos deixa sem armaduras, vulneráveis, o amor nos coloca no risco, fora dos cálculos, fora dos portos seguros.

Podes evitar as dores do amor evitando o amor. Estarás renunciando a viver. As dores do amor são criativas, levam-te a um maior dar-te conta, transformam-te.

Se renuncias às dores do amor, deixas de ser um peregrino. Tua vida deixa de ser um rio que vai até o oceano, transforma-se em um charco estancado. O estancamento narcisista.

Um rio permanece limpo porque flui. O fluir do rio outorga-lhe virgindade. Todos os amantes são virgens.

O homem moderno perdeu a coragem de entrar nessa aventura chamada amor. O homem aprendeu a linguagem da ciência moderna, esquecendo-se da linguagem do amor. A linguagem da intimidade que nos envolve, que nos revela o rosto original do outro.
A palavra intimidade, diz Osho, vem do latim intimum. Significa teu centro mais profundo. Esse centro pode ser um cosmos ou um caos (quando estamos desintegrados e não sabemos aonde ir).

A intimidade assusta, dá medo, porque o outro pode aproximar-se e descobrir que em nosso centro só existe o caos.

A intimidade é permitir que o outro entre em tua reserva selvagem, que te veja ainda nas coisas que tu mesmo não consegues ver.

Amar é mostrar-se vulnerável ao outro com a absoluta confiança de que o outro não tentará aproveitar-se da tua vulnerabilidade para converter-se em teu amo. Essa é a arte do amor, a mais esplendorosa alquimia que pode imaginar-se. O amor é uma arte, a maior da existência, também a mais difícil de praticar. A flor dourada é a mais difícil de criar. O amor como luxo, não como necessidade. Um estado da alma, não um fazer. Meu corpo inunda de felicidade, é o vazio.
Trechos do texto de Luis Alberto Warat.

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