“Já conheço os passos dessa estrada/, sei que não vai dar em nada,/ seus caminhos sei de cor...”
Esta manifestação poética do nosso cancioneiro me vem à lembrança quando tento este diálogo-narrativa contigo Andréa. Fico a cismar com algumas figuras que vão se formando a partir de tuas falas. Uma delas, ao reagires a possíveis reflexões acerca do ensandecimento das nossas formas narrativas do pensamento.Veja bem como te mostras. Começaste a sangrar ante a travessia que farás em um dos teus desafios mais recentes. Elegeu um poema, um não calar frente a momentos violentos do cotidiano. O olhar que manifestas já está comprometido desde sempre, faz parte, creio, dos teus arcanos primevos. Só por isto “escreves às cegas”, visto que amorosamente remiste a nós, pela palavra, ao denunciares o sofrido, o silenciado, o esquecido: “Quem passava no fim da rua não sabia que a água da chuva pode apagar a dor de um homem”. Assim fechas o poema, mas tua voz não cala com o sangue diluído pela chuva, continuas a escrever “às cegas. Quero que percebas como teu pensamento estético sedimenta a narrativa do teu pensamento: “a grande deusa Ananke, a própria Necessidade”, entregue a ti pelas mãos de Afrodite, a deusa do Amor, guiam os passos dados nas travessias que fazes, amorosamente e atenta às necessidades que te impulsionam na direção da alteridade, de um outro que sabes necessitado. A este movimento costumo chamá-lo de AMOR, e isto coloca-se tanto na tua narrativa quanto no desiderato que deste a ti própria ao colocar na tua vida o sistema prisional gaucho, lugar de falas reverberadas nos calabouços-moradia dos banidos, bandidos, excluídos, dos esquecidos... do homo sacer.
As travessias estão aí para passantes como nós, Andréa, Warat, Albano e tantos e tantos que não conjugam com o poeta que já conhece os passos dessa estrada, creio que nós não o conhecemos. Sei apenas que vamos, talvez na Esperança que outros também ousem AMAR, incondicionalmente a VIDA. E, que por amá-la, procuram resgatar “sentido” para a Palavra que nomeia sem reter, sem aprisionar, sem submeter, mas, a Palavra inscrita em cada um, desde tempos imemoriais.
Parece-me que buscamos no outro esta inscrição amorosa do desejo, tão vazio e tão pleno de sentido. Nomeado muitas vezes de felicidade, de alegria, de dor, de entrega, de renuncia, de posse. Nominamos tanto que esquecemos que a inscrição amorosa já ali está, esperando tão somente ser dita, porque, se não, mal-dita. Quero crer que nós, alquimistas, que buscam compreender os elementais da Palavra, devemos cultivá-la enquanto Universal que nos remete a outros planos do entendimento e que podem, quem sabe, iluminar os caminhos desta estrada de tão densa neblina, que é a estrada do Viver.
Carinhosamente
Albano Pêpe
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